Tenho cinco anos de diferença do meu irmão caçula. Matematicamente, a cada ano nos aproximamos em termos percentuais, ou seja, a diferença tende a ser menor quando vista em relação ao tempo absoluto. Porém, na infância ela foi abissal. Naquele momento, anos de vida significava tamanho e tamanho, sabemos, é documento. Gana, porém, também conta.
Vou contar uma novidade: irmãos brigam. Ainda que eu não fosse um déspota ou um tirano – sobre isso pode haver controvérsia, sabe-se lá – quando dois quereres entravam em desacordo, meu porte representava uma vantagem cabal. Como meu irmão equilibrava a contenda? Com força de vontade. Sim, ele foi uma criança muito aguerrida. E o pau quebrava.
Maior do que nós dois era o pai. E a ordem era clara: o maior não pode bater no menor. À época eu achava uma regra injusta pois, nas brechas, poderia haver uma permissão de o menor bater no maior impunemente. Hoje tenho outra leitura: era óbvio que eu não apanharia. Meu dever seria conter o ímpeto adversário, regular a disputa e manter a paz.
Fácil de dizer, difícil de fazer. Primeiro, era preciso reprimir o natural desejo de reação. Depois, preservar a posição de “quem manda aqui”. Num esforço de memória, ouso afirmar que todas as brigas terminavam na luta de solo – vantagem do maior. E a tática final era a famosa chave de pescoço. Inimigo dominado, vinha a proposta: se rende?
Nunca obtive a rendição do Daniel. Não deveria ter perdido meu tempo perguntando. Ele ficava amarelo, vermelho, azul e, nem assim, concedia-me a vitória. Jamais, jamais. Quando eu o soltava, sofria alguns golpes menos efetivos em função da falta de energia e a briga terminava sem vitoriosos e sem derrotados. Ou com dois vitoriosos. Ou com dois derrotados – escolha você. E algumas escoriações de parte a parte.
Enfim, dor de parte a parte – eis a única certeza do conflito entre irmãos.
Olá Rubem
Briga entre irmãos são apenas pequenas rusgas.
À medida que amadurecemos, o relacionamento se estreita!
Sem dúvida, Carol!
Muito obrigado!