Olhava na TV os melhores momentos de um jogo de futebol (ou piores, depende da preferência clubística) quando uma cena chamou a minha atenção. Nela, por infortúnio, um defensor pensa em recuar a bola para o goleiro e o que faz é entregar um passe açucarado ao atacante adversário. Sem a menor compaixão, nasceria mais um gol. Seria uma cena corriqueira se não fosse um detalhe: com o rabo do olho, vi o rapaz perder preciosos seguntos lamentando furiosamente seu erro de modo a perder a concentração. Ou seja, errou duas vezes.
O que fez o goleiro? Tudo o que estava ao seu alcance: primeiro recuou e, dentro de sua área – onde pode jogar com pés e mãos – forçou o atacante a se deslocar na diagonal para tentar o drible. Fechou os espaços de modo quase perfeito, mas a pelota terminou passando por baixo de si em lento deslocamento para o centro da meta. O desfecho melancólico me fez olhar para onde estava o defensor no instante fatal: muitos metros atrás. Se acompanhasse a jogada de modo metódico, teria dado tempo de, depois de entregar a bola, salvar o lance.
Numa partida, há planilhadores anotando a quantidade de passes certos e errados. Nenhum time alcança cem por cento de acertos e, no mais das vezes, o placar pode ser favorável ao time com um percentual desfavorável no fundamento – basta serem corretos os passes mais determinantes, os que fazem gols a favor. O passe errado defensivo é quase fatal. Ainda assim, garante uma dose de recuperação: nem todo atacante converte o tento. O desperdício adversário é determinado pelo poder de reação da defesa. Adoro defensores com ímpeto inabalável.
Por solidariedade humana, espero que o garoto tenha visto o replay e tirado a lição de jamais desistir antes da hora. Esqueça os manuais de autoajuda que pregam nunca desistir: há renúncias estratégicas. Não foi o caso. A vida da gente pode dar uma virada crucial depois de uma falha gigante com consequências atenuadas pela atitude certa. Até quando a reação não reverte o quadro, mas demonstra brio, há proveitos a serem colhidos no longo prazo. Chora-se o leite derramado – mas nunca antes de o copo encontrar o chão. Lembre-se: suportar e reagir até o fim!
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No primeiro sábado de novembro, dia 04.11,16h, estarei no pavilhão de autógrafos da 69 Feira do Livro de Porto Alegre esperando por você!
ou seja: só acaba quando termina! Beijo, mestre.
Chacrinha era um sábio! Beijo, meu Maria!
Obrigado, Rubem. Estava precisando ler isso hoje. Desistir, como diria o Claudiomiro, “nével”! Abração
Obrigado, Daniel! Jamé! 😉