Número 237

HÁ QUE SE ENTERNECER, SEM JAMAIS PERDER A GROSSURA

 

Ora concordando, ora com o pé atrás, leio artigos neo-feministas com uma freqüência cada vez maior. Sem dúvida, as mulheres, que já devem ser maioria nos bancos universitários, avançam firmes para o domínio das redações. Diga-se de passagem, para o domínio de tudo… Mas esse já é outro assunto.

 

Felizmente, boa parte dos textos são produzidos por mulheres que há muito abandonaram a ira contra os homens. Neles, as autoras tendem a relativizar o papel de vilão imputado ao macho no atacado para identificar, no varejo, apenas os comportamentos condenáveis. Em outras palavras, rumam para o pacifismo sexual. Porém, renitente, a antiga raiva que espumava nas palavras das ativistas de outrora foi substituída por um sentimento muito mais danoso: o desprezo.

 

A pergunta é: por que o homem nascido depois (ou no curso) da revolução feminista mereceria tal desprezo? Uma explicação recai nas possíveis escolhas de tais raivosas na hora de eleger namorados. Radicais, descartam todos os machões do espectro de possibilidades – e macheza não é, nem nunca foi, defeito. Então, acabam com uma amostra, digamos, um pouco viciada. Elas: fortes, decididas, empreendedoras. Eles: frágeis, inseguros, dependentes. Em termos de complementaridade, o casamento é perfeito. Porém, poucos homens se tornam vencedores com os atributos listados. No lugar da paz, o que obtém a feminista com quem não se preza é o controle. E o prêmio? Um banana em casa. Neste momento, ela se recorda de como era imponente o seu pai, de quanta segurança ele inspirava, e vaticina: o homem da atualidade não presta mais para nada.

 

Por outro lado, a reação masculina nestes cerca de cinqüenta anos de propaganda difamatória oscila entre o silêncio e o pastiche – este último destinado a debochar dos artigos feministas. Agindo assim, os homens ajudam a transformar o feminismo em algo totalmente do bem – a luta das oprimidas por direitos igualitários – e o machismo como 100% do mal. E, caro homem, se antes lhe cabia o carimbo de cafajeste, agora seu destino é o lixo reciclável (o lugar onde depositamos tudo o que ficou obsoleto).

 

E aí a novidade: tendem a estar realizadas as mulheres que, ao invés de comprar bonecos novinhos nas prateleiras, estão reciclando os machos jogados no lixo da história. Nossa! – dizem – como esse camarada desprezado é mais forte. Ele fala grosso, mas é capaz de tanta gentileza, não? Humm, tão seguro de si… E, incrível: outros homens o respeitam! Aposto que, com um pouquinho de tarefas domésticas compartilhadas, carinho com os filhos e reconhecimento do meu valor profissional, dará um bom marido.

 

Ah, pois é… Está na hora de inverter o dito de Che Guevara, cabra macho – ainda comentado quarenta anos depois da morte –, e reciclar com inteligência o papel masculino. Para merecer a companhia das melhores damas, hay que enternecerse, pero sin perder la grossura jamás.

 

Convite: Aproveitando o tema, convido a todos para assistirem, na 53° Feira do Livro de Porto Alegre, o evento (Re) Fazendo Gênero – novos rumos para o masculino e o feminino. Mesa comigo, Corina Breton (escritora e tradutora) e Priscila Carvalho (editora do caderno Kzuka/ZH). É dia 02/nov – sexta-feira e feriado –, 16 horas na sala oeste do Santander Cultural. No mesmo dia, 18:30h, no pavilhão de autógrafos, estarei (re) lançando O Y da questão e outras crônicas.

 


2 comentários em “Número 237”

  1. Bem, amigo, o que mais entristece é ver que o resultado do feminismo radical dos anos 1960 – que tiveram sua importância, sua razão de ser… – é que algumas mulheres hoje confundem o sentido de igualitarismo que se pregava então. As feministas queriam oportunidades eqüânimes, as mulheres de hoje estão a copiar dos homens o que alguns deles têm de pior: a canalhice, a promiscuidade, etc…

    P.S.: Rumo ao Açorianos! ¡hasta la vitória, sempre! 🙂

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