O GORDO E O MAGRO
Não existe número mais magro do que o um (1). O mais gordo, por sua vez, é o zero (0). E, mesmo sendo tão diferentes na aparência, adoram se reunir para, juntos, formarem uma dupla muito festeira. Há quem diga que o zero não vale nada – tudo bem, tem um fundo de verdade nisso. E mais: que o um, sozinho, também é pouco. Mas estes dois números são fundamentais em diversas comemorações.
O um é um magro de nascença. Em arábico ou em romano, lá está a unidade em forma de palitinho. Ele é o tal número que marca o primeiro: primeiro ano, primeiro beijo, primeiro sutiã. É, enfim, aquele que a gente nunca esquece. A própria matemática começou com o um. Talvez por este caráter precursor, venha a ser tão famoso e convidado para participar das dezenas, centenas, milhares etc. Em todo lugar, sempre cabe mais um (como dizia outro comercial, este de desodorante). Outra coisa importante: ele nunca divide os outros números, pode fazer a conta. Se tiver que diminuir, perde-se pouco.
Já o paradoxal zero é uma figura rara. Ele é enorme de gordo e, ao mesmo tempo, vazio. Na realidade, se formos pensar bem, não passa de uma abstração. Não soma nada, mas, estando junto, multiplica por dez, por cem, por mil. Nunca diminui. Se tiver que dividir, acaba sozinho. Por isso, quem sabe, gosta mesmo é de estar acompanhado. Quando se quer acabar com uma briga, nada melhor do que lembrar dele, e começar tudo do zero. Outra coisa: se ele nos couber ao final, não fica nada – nem mágoas, nem saudade.
Lembrei destes números – o magro e o gordo – por causa da aflição que cerca o jogador Romário nestes dias que antecedem ao milésimo gol de sua carreira. São páginas e mais páginas de jornal impressas com o Baixinho. São repórteres e fotógrafos se acotovelando na boca do túnel a cada jogo do Vasco. Um exército na torcida a favor do centro-avante e outro contra esta febre matemática. Goleiros mais nervosos que piá em fila de vacina. E o que falta para começar a festa e acabar com a agonia? Falta o último convidado: o numero um em forma de gol. E quem virá com ele? O zero. Aliás, três deles, para, enfim, fechar o milhar.
Pobre nove: parece não valer nada. Nem em dupla, trio ou quarteto. O pessoal só pensa nos dez anos, nos cem dias, nos mil gols, no milhão de dólares. Festa boa tem o um e muitos zeros. O número gordo e o número magro. A conta cheia. O girar do odômetro. A marca histórica!
Com sorte, o Romário vira esta página em maio, na primeira rodada do Brasileirão. Afinal, o assunto rendeu o bastante. Para mim, a ponto de perder a graça. E por falar nela – a graça – quem nunca a perde é a dupla Stan Laurel e Oliver Hardy, os verdadeiros Gordo e Magro. Juntos, são assim ó: 10!
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Rubem!!!
Muito bom! Adorei!
Bjs
Zélia
Genial, Rubem!
A aflição do Romário parece mesmo uma das piadas do maravilhoso (e saudoso) ‘O Gordo e o Magro’… 🙂
Zélia, Frizero,
aí está um típico caso em que o tema se impõe ao cronista. E, realmente, é uma piada!
Abraços,
Rubem