OLFATO
Listas, sejam quais forem, serão sempre diferentes de pessoa para pessoa. Mesmo assim, me proponho a apresentar uma pequena compilação de aromas que considero especiais. Odores que trazem lembranças, prazer, ou que ligam alguma coisa em mim. Um ou outro pode vir a coincidir com o manancial de recordações de quem lê – principalmente os campeões de audiência nos narizes da humanidade. Senão, vejamos.
CHEIRO DE CAFÉ PASSANDO. Um best seller. O perfume do café quase bate o seu sabor, de tão bom. Duvido até que os não tomadores desta infusão considerem o seu aroma desagradável. O cheiro de café tem o poder de nos fazer sentir em casa.
CHEIRO DE TERRA MOLHADA. Apresenta variações: grama molhada, terra sem vegetação molhada, areia molhada, até mesmo calçamento molhado. A chuva, além do seu perfume particular, tem o poder de alterar a paisagem olfativa do lugar. Uma delícia.
CHEIRO DE BRONZEADOR. Hoje, este produto é mais conhecido como PROTETOR SOLAR. Com um nome ou outro, seu perfume é, para mim, o cheiro do próprio sol. Ou do verão. Ou das férias. Enfim, de um conjunto harmônico formado por férias, verão e sol – ainda com uma pitada de infância. Em um dia frio e chuvoso de inverno, uma idéia é abrir uma embalagem de bronzeador para lembrar que o verão existe e logo virá – um elixir contra a depressão.
CHEIRO DE PIPOCA. Vocês já viram carrocinha de pipoca com um painel escrito “pipoca”? Ou propaganda de pipoca? Ou pipoqueiro gritando o nome do alimento para chamar a clientela? Não: isso é coisa de sorveteiro, que, mesmo com um bom produto, precisa colocar fotos coloridas, ter logotipo e corneta. A pipoca se vende sozinha. E o segredo é o maravilhoso aroma!
CHEIRO DO MAR. Demorou, mas cheguei em um não perfume. Afinal, a beira da praia é um lugar no qual vários corpos estão em decomposição. Logo, fedendo um pouco. Mesmo assim, o cheiro do mar me seduz e me balança. Vai explicar…
CHEIRO DE CARRO ZERO KM. Está aí um cheiro bem simbólico. Quase todo mundo gosta de cheiro de carro novo, ainda mais quando é o seu próprio carro novo. Pena que não dura para sempre… Neste quesito, também vale uma observação: não sei se são os carros que mudaram, ou mudou o meu nariz. Porém, em modelos do passado, o automóvel tinha um odor mais particular. Corcel tinha cheiro de Corcel, que era diferente do Opala, do Passat, do Chevette e assim por diante. Se me vendarem os olhos e me puserem dentro destes carros, saberei qual é qual. Nos modelos fabricados atualmente, não terei certeza. Isso é muito estranho.
CHEIRO DE FRANGO ASSADO (OU DE CHURRASQUINHO DE “GATO”). Que me perdoem os vegetarianos, mas a carne assando é de um perfume totalmente perturbador. Simplesmente fantástico e delicioso. E me abre o apetite na hora!
Para finalizar, vou citar dois cheiros que lembram meu pai, em sua homenagem no dia de hoje, seu primeiro aniversário de falecimento:
CHEIRO DE XAXIM. Muito mais marcante do que os incríveis perfumes de suas orquídeas, o cheiro do xaxim me traz a lembrança do pai. Quem sabe pelo motivo de ele ser um homem de trabalho, fazendo o cultivar se tornar ainda mais precioso do que o resultado final.
CHEIRO DE CACHIMBO. Não fumo, nem pretendo fazê-lo. Sequer aprecio o hábito. Mas se alguém estiver fumando um cachimbo a duas quadras distante, sentirei o perfume da fumaça, me fazendo lembrar do pai. Este vício não fez dele alguém mais saudável. Ao contrário. O problema é que não reconheço minha infância sem este aroma. No céu, com sorte, cachimbo não faz mal.
Então, Rubem, você precia entrar numa daquelas velhas barbearias que encontramos no centro, em alguns bairros e cidades do interior. O cheiro das barbearias. Confira.
Ed,
Cheiro de barbearia é realmente especial. Um cheiro masculino, de fato, e que remete a outros tempos. Interessante postares um comentário nesta crônica hoje, tão próximo ao aniversário de nascimento do meu pai – a quem dediquei a crônica. Que coisa!
Muito grato, um abraço,
Rubem