Coluna do Metro Porto Alegre em 26.09.2012

CINDERELA, O PRÍNCIPE E O FINAL FELIZ
Era uma vez Cinderela, uma gata borralheira que, depois de ficar órfã, foi tiranizada por sua madrasta e filhas – todas invejosas de sua formosura. Rebaixada ao papel de criada, tinha nos animaizinhos seus únicos amigos. Mas, ao contrário do que se possa crer, conservava sua beleza e alto astral (seria o caso de aproveitar esse gancho para uma campanha publicitária desses novos e milagrosos produtos de limpeza).
A história mudou de rumo quando o Rei e a Rainha marcaram um baile para desposar o encantador filho – ele que, por romântica teimosia, relutava entre candidatas políticas. À época, fique o registro, era com alianças no altar se faziam alianças, e não com cargos ou ministérios. A madrasta, temendo pelo insucesso das filhas, boicotou a ida de Cinderela. Contudo, não contava com uma Fada Madrinha para garantir a presença da bela. À época, fique o registro, apadrinhamento já fazia a diferença.
O Príncipe – nossa! – surtou quando Cinderela entrou no salão. Era deslumbrante: cabelo, joias, maquiagem, lingeries, vestido e um incrível sapatinho de cristal. Aliás, um pezinho dele foi o que restou para trás quando bateu meia-noite e o encanto se desfez. A borralheira voltou para seu cubículo imundo e a vida continuou muito dura.
Porém, com o sapatinho nas mãos, desconsolado, o nobre decidiu reaver o que parecia perdido. Varou o reino em sua cruzada, fazendo a carruagem estacionar em cada endereço. Chegando à casa da madrasta, as feiosas esconderam Cinderela no sótão. Astuto, um ajudante real viu a moça na janela, resgatando-a. E, num passe de mágica, quando vestiu o pezinho dela com o sapato perdido, o outro pé apareceu! Que alegria!
O Príncipe deixou a casa levando, enfim, o par completo – mereceria destaque em seu closet. Antes, é claro, pagou para Cinderela um bom preço por ele e, ainda, deu-lhe o cartão do advogado do reino para que ela colocasse a madrasta na Justiça do Trabalho – havia sinais claros de exploração de menor, trabalho escravo, insalubridade, nada de horas extras ou férias remuneradas. Um horror!
Com a indenização, Cinderela abriu um atelier com a Fada e passou a vestir toda a Corte, a começar pelo Príncipe: marco no nascimento e ascensão da burguesia e da mulher independente. Ao final, todos, menos a madrasta, viveram felizes para sempre.

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