Educar para consumir educação

Coluna do Metro Porto Alegre em 14.08.13

EDUCAR PARA CONSUMIR EDUCAÇÃO

Estamos vivendo tempos estranhos. Não de um nem de dois amigos escuto a queixa de que a justiça social está chegando ao Brasil pelo fim, o perverso caminho do consumo. Compro, logo existo. Tenho? Sou feliz. E não é uma impressão, uma teoria, um sentimento. Basta assistir TV aberta para ser inundado pela propaganda oficial e extraoficial que oferece crédito facilitado para quem está recém escalando o primeiro degrauzinho da pirâmide social – especialmente para aqueles cujo “upa” têm maior atenção. Facilitar, promover e democratizar o consumo é meta. Comprar é a palavra de ordem.

Assim, fica cada vez mais difícil culpar as artimanhas do marketing e da publicidade, especialistas em criar desejos e necessidades. Aliás, em tempos de consumo aquecido, quem sai mais prejudicada é a propaganda – quando há compra, não há venda. Basta anunciar ao estilo “muitas palavras por segundo” e sem nenhuma criatividade. O monstro capitalista está domesticado, isto é, alimentado fartamente, banho e tosa em dia, fitinha no alto da cabeça. A banca não é fustigada por quem, historicamente, a combateu.

Preocupar-se com isso quando nós, classe média histórica, usufruímos de bens de consumo desde sempre parece estranho. Mas não é. Parece preconceituoso. Mas não é. Parece até carregar algum ressentimento: todos passaram a ter o que me diferenciava! Mas não é nada disso. Aliás, publicitário aflito com consumo parece loucura. Mas é bem sensato. Quem eu vejo preocupado (e sou solidário) faz contas. Excluindo alguns poucos muito privilegiados, todo mundo vive com seu orçamento contado. Para ter algo é preciso abrir mão de outra coisa. O que notamos (e o que nos preocupa) são as escolhas.

É fácil – e correto – execrar o poder público quando ele pega o nosso dinheiro e gasta mal. Não aplica em educação, em saúde e infraestrutura. A impressão é a de que supérfluos (tipo palácios suntuosos para os Poderes, carros oficiais, aviões, viagens, estádios etc.) estão sempre adiante do primordial. Mas esse modelo pode se repetir em nossos lares facilmente. Basta ver o tamanho do investimento em cultura e educação, em saúde e em artigos de utilidade básica, quando comparado com o celular de última geração, a TV de muitas polegadas, o carro seminovo. Eis o problema: a classe média histórica é vítima menos frequente do “ou”. Ela investe no supérfluo “e” no essencial. De certa forma, fomos educados a consumir, antes, o que faria a diferença adiante. E da maneira mais segura: através do exemplo.

Para onde estão indo nossos esforços: para o consumo, ou para a educação?

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