O ano do suéter salmão

Rubem Penz

Em regra, homens não são bons com cores. Tendemos a simplificar: vermelho, verde, cinza. Marrom, azul, amarelo. Mas, só quem precisou pintar o capô do carro sabe quantos vermelhos existem no vermelho; basta olharmos para um jardim para identificar mil verdes no verde; para agradar uma mulher há, por baixo, cinquenta tons de cinza, e assim por diante. Este ano, por exemplo, ganhei das alunas um suéter. Exultei: um suéter rosa! Elas me olharam de soslaio. Não é rosa – é salmão.

O presente tinha endereço. Ou melhor, tinha data: era para ser usado em agosto, durante o tradicional sarau literário que apresenta a produção de crônicas da oficina Santa Sede. Agosto, aqui no Sul, é inverno e faz frio. Por isso, um suéter. Mas fez calor. Muito calor. Vesti camisa e precisei dobrar as mangas. As mulheres estavam de ombros nus. E não foi uma noite de exceção – eu jamais vivera um agosto tão quente em toda a minha vida.

Porém, o estranho vem agora. Após cumprida a etapa de produção gráfica, lançamos o livro em meados de outubro. No mês dez, Porto Alegre floresce em vívida primavera. Mesmo à noite, basta uma manga de camisa para harmonizar com a temperatura ambiente. Menos neste outubro. O frio fora de época devolveu a chance de usar o suéter rosa. Digo, salmão. As meninas já tinham se conformado com a impossibilidade de eu cumprir a promessa de inaugurar o agasalho com elas. Fui salvo.

Como vemos, este é nosso 2015, o ano do suéter salmão – tudo parece ordenadamente fora de lugar, até mesmo a temperatura. Se não podemos confiar nas estações do ano, vamos confiar no quê? Em quem? Não há cores seguras em 2015. O que há é muito constrangimento. Defender o indefensável é jogar contra o próprio patrimônio; acusar sem moral, também. Tão contraditório quanto alcinha em agosto e blusão em outubro é o debate que nasce em Brasília e se espalha. Tempos sem verde, vermelho ou amarelo. Tempos de luto.

Relaxando: por falar em estações, convido os que ficam na cidade em janeiro para fazerem a oficina literária intensiva “Porto Alegre Soa Assim – Santa Sede de Verão”. Encontros nas segundas-feiras de janeiro (lotou a turma de terça) no bar Apolinário, 19h30. Quarto ano de sucesso! Aprenda comigo as nuances da crônica no lugar ideal para provocar a criatividade tomando um chope. Informações e inscrições em rubempenz@gmail.com. Vagas limitadas!

Crônica publicada em 15,12,15 no Metro Jornal Porto Alegre

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