O lugar certo na hora certa

Rubem Penz

Na calçada diante da escola, seja dentro ou fora do carro, sozinho ou em grupo, cedo da manhã, ao meio-dia, final de tarde ou mesmo durante a noite; caminhando pela praça, correndo no parque, brincando na gangorra, no balanço, no escorregador; curtindo uma sombra acomodado num banco ou nas escadarias; tirando fotos, ouvindo música, lendo, passeando com o cachorro ao cair da tarde (se está calor) ou no auge do sol (para o inverno). Estes são todos lugares certos nas horas certas.

Ao descer do ônibus na grande avenida e, de modo capilar, infiltrar-se a pé nas ruas laterais para ir e vir antes ou depois de um dia de trabalho; no carro defronte ao edifício da namorada esperando para irem ao cinema, acionando o portão automático da garagem de casa, ou ainda no estacionamento do supermercado para fazer compras com a filha de quatro anos; aguardando o trem na plataforma da estação, quieto no ponto de taxi-lotação, desprendendo a magrela para pedalar na ciclovia; na ciclovia, na calçada, no leito da rua. São estes todos lugares certos para todas as horas. Haveria algo errado?

Nas mesas de calçada para tomar um chope ao entardecer, saindo da faculdade (com ou sem uma parada para conversar com os amigos), descendo do táxi ou do Uber depois de uma noite de festa, perto do estádio antes ou depois do jogo; no Centro Histórico respirando ares de pertencimento, nos bairros planejados experimentando um sabor de primeiro mundo; nas vielas das vilas populares em busca de mais dignidade, nas calçadas cheias de árvores apesar do arrepio das sobras que o vento move; na beira do viaduto, na margem direita do arroio, na ladeira e, sim, de manhã, pela tarde e durante a noite. Lugares muito certos. Na certa, em horas muito certas.

Na farmácia para buscar o remédio que faltou, no posto de saúde para sanar um mal súbito, no pronto-socorro em casos de emergência; na padaria cujo perfume de apetite invade a calçada, naquela fruteira que atende 24 horas; no restaurante que frequentamos desde a infância, no boteco novo que abriu ou no tradicional para uma vez a cada semana; na loja, no banco, na lotérica; diante do estúdio (para quem curte música), da quadra esportiva (para boleiros, tenistas, basqueteiros…), da escola de dança, da piscina, do atelier, da cinemateca, da Igreja. Onde há vida, arte, saúde, amizade e fé, serão todos lugares certos em precisas horas.

Quem está no lugar errado e na hora errada não somos nós, não, e sim algumas pessoas armadas, atentando contra o patrimônio e a vida. Não venham confundir em manchetes o certo e o errado.

 

Crônica publicada no Metro Jornal em 25.10.16

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