Dez de dezembro!

Dez de dezembro!

Rubem Penz

É o que grita ao tirar os olhos do celular e, enfim, ver o que acontece à frente de dentro de 2019. Sabe o que é pior? Está ao volante.

Sim, contra todas as orientações de segurança, permaneceu com o aparelho na mão enquanto percorria o caminho, ora lendo, ora escrevendo sobre tudo ou qualquer coisa.

A cada aviso sonoro de nova mensagem, uma falsa urgência roubava sua atenção. Sempre fora assim, porém nunca com tamanha intensidade, velocidade, pânico. Nada podia ficar sem resposta.

Escapou de ficar sem combustível em janeiro – nem viu o nível do tanque. Em fevereiro, por sorte não quebrou uma roda quando raspou no meio-fio como quem esbarra em meias-verdades.

E já era março quando caiu num Carnaval deixando a surdina na avenida. Apenas repetia para si: – Que absurdo, que absurdo! – vista esbugalhada diante da telinha.

Abril não chegou com tréguas, houve um maio de divórcios – não de noivas –, um junho que te pego e um julho que as coisas não ficarão assim.

Há gosto pelo debate setembro afora. Outubro, ou novembro, jamais o colaborativo e inclusivo “e”. Ano de dividir, nunca ano a somar. E, no instante presente, dez de dezembro!

Pisa no freio com toda força, mas já sabe que vai trombar com o Natal e fazer estragos. Vinha rápido demais, desatento, raivoso. Mas adivinho que colocará a culpa nos outros. No máximo admitirá não ter visto que tinha entrado em dezembro.

E, diante de tanto prejuízo, fará promessas para 2020. A primeira, desligar um pouco do celular.

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