Pinheiro de Natal

Pinheiro de Natal

RubemPenz

Em natais recentes estive reticente para montar ou não o pinheirinho aqui de casa. Afinal, entre base e ápice há um metro e sessenta de altura, um bocado de enfeites e, assim, uma certa demanda de disposição para a tarefa. Ok., vamos parar de mentir pois o Papai Noel não gosta de menino mentiroso: o problema não é o trabalho, nunca foi. Mas também não vamos falar disso nem aqui, nem agora.

Na lógica, o Natal do isolamento social agravaria os sintomas deste desânimo – o qual me esquivo em detalhar. A pergunta é: o que atualmente responde dentro de nós de modo lógico? Nada! Por isso, no início de dezembro abri com certa avidez as caixas para, com a Vanessa, erguer a instalação familiar e colocar guirlanda na porta de casa. São muitas perdas para lamentarmos, logo, vamos nos agarrar naquilo que podemos controlar.

Psicólogos poderiam discorrer com muito mais apropriação sobre a utilidade (necessidade?) de cumprirmos certos rituais. Festas e cerimônias atreladas à passagem do tempo, trocas de estações e encerramentos de ciclos são realizadas pelo homem desde tempos remotos. Desde sempre, arriscaria dizer – ou desde que nos tornamos seres pensantes. Elas favorecem uma necessária busca de ordem no caos, algo que aplaca a angústia diante do imponderado. Enfim, acalma nosso coração, congrega, historifica.

Por isso, exatamente quando pouquíssimas pessoas cruzarão nossa porta de casa – quase ninguém, aliás –, a árvore de Natal cumpre o papel mais nobre: aquele de ser resistência. Para temperar com mais carinho, ela recebeu este ano a doação de adornos com sessenta anos de idade, bolas e pingos de vidro que compunham os natais de minha infância, colocados à época em pinheiros naturais comprados em Novo Hamburgo. Ah, ainda tenho na memória o cheiro úmido que brotava do encontro do tronco com a água e com as pedras da lata preparada para servir de base, oculta por uma alinhagem que receberia o presépio.

Também esta é a razão de existir uma crônica sobre o pinheiro: o apelo para que, na casa de cada um a quem ela chegar, este seja um Natal festejado, memorável, doce, feliz. Uma noite para relembrar festas passadas e reforçar laços com nossos afetos, mesmo quando fisicamente distantes. Para dizer ao caos sobre nossa luta em criar a ordem, hoje mera ordem possível. Apelar a tudo o que, apesar da dor, do sofrimento e do cansaço do ano, possa ser controlado. Uma árvore para amenizar perdas e significar esperança.

Um pinheiro de Feliz Natal!

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