Há quem imagine que exista muita diferença entre as mães que deram à luz aos filhos e as mães por adoção. Eles tecem argumentos os quais, se vistos na literalidade, fazem sentido. O problema é que muito pouca coisa na maternidade pode ser vista na literalidade sem o risco da simplificação equivocada. Ou injusta.
Do princípio: concepção. Esta palavra pode tanto significar a consequência da fecundação do óvulo por um espermatozoide, quanto a criação de uma ideia. Logo, nada mais justo do que imaginarmos o princípio da maternidade por adoção como fruto de concepção, não é mesmo? Assim, sem precisarmos trocar de termos, já surge a primeira paridade.
E a gestação? Ora, diversos processos encontram paralelo no termo gestação sem que isso cause estranhamento. Universidades, por exemplo, têm nos centros tecnológicos um espaço denominado de incubadora. Lá, empresas destinadas à inovação percorrem um caminho gestacional antes de ganharem o mundo. O mesmo acontece na mulher – sem ganhar qualquer centímetro na cintura, desde a concepção, ela entra no período gestacional em sua alma.
Por falar em período gestacional, na gravidez por adoção ele costuma ser mais longo, o que acrescenta um pouco de angústia a seu processo natural. Não há visitas ao ginecologista, mas, muitas vezes, o analista cumpre o papel de acompanhamento. Também o pai nota o aumento no volume dos sonhos, cresce a expectativa, muda o modo de a mulher olhar o mundo. Tudo sutil? Sim. Porém, intenso.
O rompimento da bolsa corresponde ao famoso “telefonema”. Ele dispara na mamãe a certeza de que chegou a hora: dali para algumas horas, a criança poderá encontrar seus braços. Ninguém passa por esse tempo sem contrações no coração, crescentes na frequência e na intensidade. A dilatação aparece no sorriso, ainda que possa ser atribuída ao corpo inteiro.
Por fim, nascem mãe e filho, ou filha, um para o outro. Partos simultâneos, exatamente como acontece na forma biológica. Dois estranhos que se reconhecem, duas almas destinadas a formar o laço mais intenso que uma pessoa almeja experimentar. Um momento para ser celebrado no segundo domingo de maio de forma, a partir de então, literal.
Vanessa, meu anjo, Feliz Dia das Mães!
PS: como observou minha amiga Myrthes, as mães biológicas também adotam os filhos que chegam aos seus ventres. Portanto, festejar as mães adotivas contempla todas as mães.
Me senti contemplada! Tanto a mãe biológica como a mãe por adoção necessitam de um alto grau de aceitação e aconchego aos filhos para educá-los de forma amorosa.
Muito obrigado, Inês!
Feliz Dia das Mães!
Você colocou em breves palavras todo um processo muito sensível, amoroso e, acredito, tão profundo quanto o que leva à maternidade biológica. Digo isso porque não tive filhos para fazer a comparação, nem consegui adotar, embora tenha passado pelas várias etapas dos trâmites. O que posso confirmar é que se sente de forma intensa essa gestação (mesmo não completada) e, pelas “mães do coração” (palavras delas, não minhas) que conheço, afirmo serem ambas, biológicas ou adotivas, igual e plenamente, mães. Bela homenagem!
Cristina, coo tenho ambas as experiências, digo: é igual em tudo. Muito muitíssimo obrigado pela leitura atenta e comentário carinhoso. Abraços!
Coloco neste balaio inúmeras ‘boadrastas’, que ainda não reconhecidas como mãe adotivas, são mães afetivas…
Bem colocado, Giana. Há inúmeros lares com “os meus, os seus e os nossos”. Abraços!