Rubem Penz
Ai, pai – Sabe aquela roupa de super-herói que você vestia quando os filhos eram pequenos: camisa, gravata, calça e sapato? Ou camiseta, jeans e tênis? Ou apenas chinelo e bermuda? Pouco importando o estilo, para a criança você era forte, poderoso, imbatível. Inspirador! Pois, quando chegar para eles o momento da adolescência, esqueça – ela não servirá mais. Esteja preparado para ser igual a todos os demais adultos: patético. E qualquer ato de vivacidade, descontração ou espontaneidade será brindado com um sonoro e retumbante “ai, pai”. O orgulho de outrora será substituído pela eterna vergonha: você cumprimenta a caixa do supermercado pelo nome (ai, pai), você chama o amigo de infância pelo apelido escatológico (ai, pai), você ousa dançar conforme os anos 1970 ou 80 (ai, pai). Então, o que fazer quando seus filhos padecerem deste mal de tantos ais? Nada. Com sorte, até os 30 anos essa febre passa…
Aí, pai! – Quando um filho adolescente vier até você todo contente e, sem se importar com o entorno, soltar um vibrante “aí, pai!”, esteja preparado. A primeira opção para tanto entusiasmo é uma mordida no seu bolso. Para subir as chances de sucesso, virá um tapinha nas costas, um abraço, até um beijo. Na certa ele, como nasceu ontem, pensa que você também nasceu ontem. Esquece que você já foi um adolescente e usou todas as estratégias de sedução para conseguir aquela verba para, por exemplo, ir à Santa Catarina. Outra possibilidade deste súbito ataque de simpatia é uma má notícia se avizinhando: notas baixas, carro arranhado, doze amigos para jantar na sua casa (esperando que você faça a comida, é claro). Este último caso costuma ser acompanhado por vários “aí, tio!” em sequência. Por fim, o “aí, pai!” mais esperado é o da maturidade emocional: você fez algo bom, importante, e os filhos esquecem o próprio umbigo para um verdadeiro elogio (resgate do momento super-herói).
I-pai – Primeiro, surgiu a notícia de que escolas particulares colocariam câmeras nas salas, oferecendo aos responsáveis uma senha e o acesso às imagens em tempo real. Até onde lembro, o alvo eram as creches e classes iniciais, com flores delicadas que jamais deveriam se defrontar com o desafio de crescer com autonomia, baterem de frente com uma criança mais forte, ou estarem expostas às eventuais negligências dos educadores. Isso chegou a pegar? Acho que não. Ainda bem, penso eu. Agora, a novidade é um aplicativo que avisa que o filho entrou na escola (e quando), conta de seu desempenho nos boletins e dá outras notícias sobre a rotina. Uma espécie de “I-pai”. Tudo em nome da segurança – como se o mundo que os espera para depois fosse outro, e não o que está posto. A notícia me fez lembrar das flores delicadas, da falta de diálogo, da paranoia reinante. Pensando nas comemorações deste domingo, resta-me dizer: “Aí, I-pais: aiaiaiai…”.
Crônica publicada no Metro Jornal Porto Alegre em 05.08.14