Ao mar!

Paramar, ao mar, amar*

Se você é uma pessoa com conhecimentos gerais médios, creio que saiba o básico sobre o navegador brasileiro Amyr Klink e seus impressionantes feitos – dentre os quais o mais prosaico, talvez, seja ter se casado com uma Marina (não bastasse, tem outra Marina como filha). Agora, caso você tenha a oportunidade de assistir uma palestra com Amyr Klink, por favor, não desperdice esta hora e meia de vida com nenhuma outra atividade. Ele, que é claramente um homem que convive muito bem com o silêncio das palavras, tem muito a nos contar. E conta com uma graça meio desengonçada fazendo rir e pensar, sem falar nas lágrimas que, se não descem, salgam o mar dos olhos.

Tive este privilégio durante o 3º Summit Ambiental do Hospital Moinhos de Vento. Décadas atrás já havia me encantado com seu barco a remo I.A.T. construído para a travessia do Atlântico Sul que vi no Museu Nacional do Mar, em São Francisco do Sul, SC. Ouvindo o construtor e suas motivações pude compreender o imenso valor dos bons planos em qualquer atividade humana. Suponho que o reflexo de suas experiências náuticas espelhado em nossa vida – e que seguiram com os veleiros Paratii e Paratii 2 –, explique o sucesso de suas palestras. Todos deixamos o auditório com aquela agradável sensação de que tudo é possível. Porém, a impressão positiva não passa por frases motivacionais vazias ou garantias nascidas do desejo: ele navega conosco pelos mares do conhecimento, da obstinação, da excelência e do planejamento.

Ninguém precisa remar por cem dias para ter uma vida plena.

Aquilo que para a maior parte das pessoas soa como aventura (ou insanidade), para Amyr se transforma em projeto. Nele, a necessidade de antecipação é diretamente proporcional aos desafios que o objetivo demanda. Antes de todas as suas expedições, houve um estudo minucioso do que poderia dar errado com base nas experiências – muitas delas fracassadas – dos outros. Durante a jornada, a entrega plena de suas energias e ânimo e teimosia o tornam capaz de dar conta dos desafios. Ao final – agora uma surpresa para os que não compreendem a natureza dos desbravadores –, no lugar da esperada euforia, surge uma quase tristeza, a mesma que experimentamos nas derradeiras páginas dos livros que nos encantam. Talvez o nascimento da saudade.

No que histórias raras inspiram vidas comuns? Naquilo que de mais precioso se possa imaginar: impedir que uma existência rasa resulte em frustrações. Ninguém precisa remar por cem dias para ter uma vida plena. Nem deve. Aliás, seria horrível se terminássemos a explanação com esta noção literal de sucesso. Porém, ao nos dedicarmos a uma atividade profissional com afinco; ao atender o chamado do talento para tocar um instrumento musical, esculpir, escrever, representar ou pintar; ao viajar ou construir para si e para os afetos espaços/tempo com vivências reais e intensas – humanas! –; enfim, ao remarmos contra o marasmo, o resultado será muito compensador. E terminaremos nossa vida como quem cruza o oceano ou chega à última página de um grande livro: com – e deixando – saudade.

– X – X – X –

Na remotíssima hipótese de ser a escrita o seu projeto almyrklinkiano, ou de alguém de suas relações, saiba que estão abertas as pré-matrículas para os módulos Aperitivo e Mosaico da oficina Santa Sede – crônicas de botequim. Início em setembro, peça detalhes. Não há mar. Mas a’mor promessa de amar.

*Fragmento de Paramar, música do álbum Reverso, do AR DUO (Antônio Xavier & Rubem Penz), em breve num fone de ouvido perto de você.

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